terça-feira, 22 de julho de 2025

Epistemologias da Ignorância

As Epistemologias da Ignorância constituem um campo crítico que investiga como o não-saber é ativamente produzido, mantido e distribuído em estruturas de poder. 

Definição e Contexto

- Objeto de estudo: a ignorância não como mera ausência de conhecimento, mas como produto social e político.

- Origem: surge como contraponto ao ideal iluminista de progresso cognitivo, revelando como sistemas perpetuam "zonas de não-saber".

- Autores fundadores:

  - Robert Proctor (Agnotologia)

  - Nancy Tuana (Epistemologia da Resistência)

  - Charles Mills (Ignorância Branca)

Mecanismos de Produção da Ignorância 

Dúvida fabricada - Indústria do tabaco questionando câncer - Atrasa políticas públicas  

Apagamento seletivo - Colonialismo destruindo arquivos indígenas - Rompe   transmissão de saberes.

Sobrecarga informacional - Desinformação em redes sociais - Paralisia cognitiva.                 

Privilégio epistêmico - Homens definindo "verdade" sobre aborto - Silencia vozes marginalizadas.

Tipologias da Ignorância

- Ignorância estratégica: Ativa (ex: governos negando dados climáticos)

- Ignorância estrutural: Sistêmica (ex: currículos que omitem história negra)

- Ignorância inocente: Não intencional (ex: lacunas em pesquisas médicas sobre corpos femininos)

Casos Paradigmáticos

Negacionismo climático  

   - Financiado por petrolíferas para retardar ações  

   - Tática: Promover "controvérsias" onde há consenso científico  


Epistemicídio colonial  

   - Destruição de saberes africanos e indígenas  

   - Efeito: Hierarquização de conhecimentos (ocidental = válido)  


Vieses em IA

 - Datasets que excluem minorias → Sistemas que naturalizam discriminação  

Ferramentas Analíticas

- Cartografia da ignorância: Mapear o que é sistematicamente omitido  

- Arqueologia do silêncio: Recuperar saberes suprimidos  

- Testes de contrafactual: "O que saberíamos se X grupo tivesse voz?"

6. Críticas e Limitações

- Risco de relativismo: Tudo pode ser visto como ignorância  

- Paradoxo: Estudar a ignorância requer categorizá-la, o que já a reduz  

Aplicações Contemporâneas

- Justiça reparatória: Restituição de saberes indígenas  

- Regulação de IA: Exigir auditorias de viés  

- Pedagogia crítica: Ensinar a identificar ignorância fabricada

Conclusão: A Ignorância como Campo de Batalha

Como afirma Boaventura de Sousa Santos:  

"Não há justiça global sem justiça cognitiva." 


Esta epistemologia revela que:

1. A ignorância é política – decide-se quem pode saber  

2. O silêncio é ativo – resulta de escolhas estruturais  

3. Descolonizar o saber exige reparar ausências 


Seu desafio radical:  

Transformar não apenas o que sabemos, mas como decidimos o que vale a pena saber.



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